"O que diferencia «uma mudança reformista» de «uma mudança não reformista» num regime político, é que no primeiro caso o poder continua fundamentalmente nas mãos da antiga classe dominante e que no segundo o poder passa das mãos dessa classe para uma nova."

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Imaginemos

Imaginemos que, na sequência dos resultados para as eleições intercalares de Lisboa no passado dia 15 de Julho, o Presidente da República começava por declarar um «impasse» devido ao facto de o PS de António Costa ter obtido apenas uma maioria relativa e uns escassos seis vereadores, longe dos nove indispensáveis para uma maioria absoluta e a uma distância abissal dos 17 que compõem o total do executivo camarário.
Era flagrantemente ilegal – a lei eleitoral portuguesa é taxativa a indicar que o cabeça de lista da formação mais votada deve chefiar e constituir o futuro executivo – mas estamos numa suposição.
De seguida, o Presidente Cavaco Silva aponta a «necessidade» de se conseguir um «entendimento democrático» que solucione o problema.
É então que Carmona Rodrigues, com os seus três vereadores, giza o tal «entendimento democrático» com o PSD (que «em nome de Lisboa» esquece os desaguisados recentes com o seu ex-candidato e contribui com três eleitos), com Helena Roseta (que «em nome dos cidadãos» e em memória da desfeita que o PS lhe fez acrescenta os seus dois lugares) e com Sá Fernandes, do Bloco de Esquerda (que, «em nome dos lisboetas que acharam que o Zé faz falta», arrematou a jogada).
É claro que o PCP ficou de fora deste arranjinho, mas isso é o costume: os comunistas querem-se bem longe, para os conluios andarem sobre rodas.
Portanto, assim do pé para a mão, eis uma robusta maioria de nove eleitos resultante de uma «ampla coligação». Isso mesmo assinala e enaltece o Presidente da República, Cavaco Silva, quando anuncia ao País a formação de um novo executivo camarário para Lisboa tendo Carmona Rodrigues como novo presidente.
Eis também, assim num repente, o responsável máximo por um executivo PSD que desabou fragorosamente soterrado de escândalos, a voltar ao poder depois de ter descido de oito para três mandatos e sofrido uma derrota clamorosa.
Eis ainda, em contrapartida, um PS vitorioso, que subiu para seis mandatos a sua representação na câmara de Lisboa, a ver-se repentinamente desapossado da presidência e expulso do poder. É evidente que se isto ocorresse aqui e agora, em Portugal, o País levantar-se-ia em peso e todos os órgãos de comunicação social, sem excepção, demonstrariam a mil vozes que se dera um golpe de Estado constitucional.
Felizmente que nada disto aconteceu com Lisboa, onde os bons costumes democráticos continuam devidamente alinhados.
Apenas aconteceu em Timor-Leste onde, no descontraído e generalizado dizer da comunicação social portuguesa - e em consonância com o que o imperialismo afirma dos EUA à Austrália -, a Fretilin simplesmente «foi derrotada» pelo Nobel da Paz Ramos Horta, agora distinto Presidente do jovem país, isto apesar de ter ganhado as eleições legislativas com a tal maioria relativa. Entretanto Xanana Gusmão, esse «grande líder» que se alcandorou a «herói da resistência» colaborando na prisão com o opressor indonésio, é nomeado primeiro-ministro pelo amigo Ramos Horta apesar de ter perdido as eleições, à frente de uma «coligação» de insignificâncias eleitorais unidos pela obsessão comum de destruir a Fretilin, a indiscutível força vencedora que foi assim liminarmente afastada do poder.
Como isto se passa em Timor, parece que é tudo perfeitamente normal. Para os nossos ilustres democratas – do Governo a quem o apoia na Informação -, as regras democráticas são para se respeitar, mas só quando isso convém...

9 comentários:

Anónimo disse...

muito bom texto. pá e explica na perfeição o que passa em Timor. Xanana é um traidor que vendeu o país à Austrália e colaborou com os indonésios mm qd estava preso. Viva a Fretilin!!!!! Viva a democracia! Viva o país do crocodilo

Adega disse...

Reparem que Xanana além de prime-minister vai passar a ser também ministro da Defesa e Segurança e ministro dos Recursos Naturais. Ou seja: transformar Timor no "prostíbulo" dos Australianos e dar porrada nos que não concordarem.

Adega disse...

ahhhh e não esquecer que o subagrupamento bravo da gnr, pago por nós, ainda está lá ao serviço da dupla de chacais. Nós portugueses ainda "guardamos" o quintal aos australianos... assim é muito!

Anónimo disse...

Nem mais Lady Drella - Nós portugueses ainda "guardamos" o quintal aos australianos... assim é muito!

Bruno disse...

Convém lembrar - só assim de fugida - que a lei é para se respeitar e que Ramos Horta limitou-se a cumprir a Constituição da República Democrática de Timor Leste.

Quanto ao exemplo das eleições para a CML ele é descabido porque os órgão autárquicos são eleitos de forma diferente do Governo em que a eleição não é directa.

Mas saber um bocadinho do que falamos é mais difícil do que mandar postas de pescada para o ar...

Anónimo disse...

"a lei é para se respeitar e que Ramos Horta limitou-se a cumprir a Constituição da República Democrática de Timor Leste." -jovem Bruno não querendo entrar em discussão, "Mas saber um bocadinho do que falamos é mais difícil do que mandar postas de pescada para o ar..."

Cumprimentos Revolucionários

Anónimo disse...

Meu caro Bruno você ou é inocento ou então maldoso!eu explico porquê-é que olhando a sua foto,você podia ser meu neto, digo-lhe este exemplo das eleições de Lisboa, é muito suave, comparado com o que se passou em Timor-o que se passou em Timor não tem nome no dicionário!Ou tem?
Meu caro!-acha que a constiruição da Républica Portuguêsa está a ser cumprida?
Então fique com esta máxima que eu descobri-"nem sempre o saber adquirido enche a medida da experiência" VIVA a DEMOCRACIA
RUMO ao SOCIALISMO
José Manangão

Adega disse...

Os artigos 85 e 106 da Constituição da República Democrática de Timor Leste dizem que o Presidente da República deve convidar a força maioritária para formar o governo e só na situação de rejeição do seu Programa pelo Parlamento Nacional, por duas vezes consecutivas, pode o Presidente da República convidar o segundo partido mais votado. Não sendo este o caso COMO ESTÉ BOM DE VER PARA QUEM NÃO É BURRO E SABE LER, a decisão de Ramos Horta é uma decisão contrária a Constituição timorense e, portanto ILEGAL. Claroq ue a metáfora, como qualquer metáfora, tem subtilezas que nem todos os "espíritos" querem ver. É preciso uma paciência...

Fernando Samuel disse...

Ó Bruno: convém lembrar que Ramos Horta limitou-se a não cumprir a Constituição da República Democrática de Timor-Leste. Se a tivesse cumprido teria convidado a formar governo, em primeiro lugar, o partido mais votado nas eleições - neste caso a Fretilin.

Agindo como agiu, Ramos Horta não apenas não cumpriu como desrespeitou a lei fundamental do seu País.

Quem é que manda postas de pescada para o ar, quem é?