NOTÍCIA DE “O SORRARIA” PROVOCA UMA TORRENTE DE REACÇÕES DÍSPARES
Na passada edição de 26 de Dezembro de 1994 de “O Sorraia”, a notícia que figurava na última página sob o título DEPÓSITO DA FAJARDA e, nomeadamente, o parágrafo onde se afirmava: “sexta-feira, dia 16 de Dezembro, a água começou a correr nas traseiras, vinda do tão esperado depósito.”, provocou uma vaga de reacções em catadupa.
Fosse aquele quinzenário regionalista um órgão em que os leitores se confrontassem com gralhas constantes nas suas páginas, e tal notícia não teria passado de uma pequena tempestade num copo de água; apenas se diria que “O Sorraia” tinha metido água uma vez mais, trocando torneiras por traseiras.
Mas como aquele jornal já habituou os seus leitores, fiéis como uma onda, a uma escrita impoluta, ausente de erros, inexactidões ou aleivosias, em suma, uma escrita de primeira água, tal notícia, a uns, deu água pela barba, enquanto que, a outros, fez ferver em pouca água.
Agora que as água estão mais calmas já podemos, serenamente, dar conta das reacções mais díspares provocadas pela referida notícia, certos de que muita água vai ainda correr sob as pontes.
Quando, ao questionarmos o Chefe de Redacção, este sacudiu a água do capote, vimos logo que o caso trazia água no bico.
De resto, uma importante testemunha da Fajarda, pessoa proba, asseverou-nos que ao longo das semanas anteriores tinha realmente estranhado ver, pela calada da noite, furtivamente colados às empresas posteriores das casas da povoação, grupos de trabalhadores municipais transportando compridos tubos de polietileno, não apercebendo então qual seria o seu objectivo.
Assim, mal aquele periódico apareceu nas bancas, àqueles que andavam sem desejosos de que os serviços municipais ponham a pata na poça, cresceu-lhes a água na boca.
Um indivíduo que estava a mudar a água às azeitonas disse logo: temos o caldo entornado!
Quando inquirimos aquele velho alquilador fajardense, o homem deu com os burrinhos na água e apenas comentou: p`ra trás mija a burra!
Perguntada a sua opinião, aquela bicha bem conhecida, respondeu toda enlevada: Ai, nas traseiras acho o máximo!
Aquele moleiro, quando o questionámos sobre a matéria, mostrou-se radiante e afirmou estar satisfeito pois agora já podia levar a água ao seu moinho. Membros de uma família coruchense, de apelido bem conhecido e popular, sustentaram que tudo iria ficar em águas de Bacalhau. Entretanto, o júbilo foi patente nos habitantes da Fajarda Norte que, como é sabido, sempre olharam de frente a rede de água da Fajarda Sul. Até a homilia de Natal, em que muitos fieis julgaram vislumbrar uma alusão velada ao acontecimento, foi baseada na célebre frase – NUNC EST BIBENDUM – que Jesus da Nazaré terá proferido na Última Ceia. Depois de muita insistência da oposição para que o assunto fosse esclarecido publicamente, um antigo membro de executivo municipal respondeu peremptório e definitivo: O que é importante é que os senhores munícipes vejam as suas necessidades básicas satisfeitas. Pela frente, ou pelas traseiras, tanto importa! Um responsável local do PS, conhecido pelo seu temperamento irascível e por uma certa rudeza, ao ser abordado sobre o assunto por um antigo candidato independente por aquela força política à presidência da Câmara, respondeu-lhe abruptamente, com grosseria, como é seu timbre: Na P…., senhor Almeida!
De antigos membros dissidentes da Comissão Coordenadora da CDU, respigamos do seu comunicado público, a seguinte frase: “…já estamos habituados a que façam tudo nas nossas costas!” Da proclamação do protesto do PSD transcrevemos: “…tanto mais que o PSD chamou atempadamente a atenção da Câmara Municipal para que, com tal procedimento, estaríamos a comprometer a modernização do Concelho, permanecendo na cauda da Europa”. O PCP veio terreiro afirmar que “A água a correr nas traseiras é mais uma prova da transparência clara da política municipal e mais uma prova da confiança no futuro através de uma gestão democrática rumo aos quintais, até à rede de abastecimento público final”.
Mas da disparidade destas reacções, nota mais emotiva que há-de permanecer na memória, foi quando àquela velhinha – que toda a vida carregara para casa, ajoujada, as cantaras de água do poço do quintal – ao abrir pela primeira vez a torneira, se lhe arrasaram os olhos de água
Expessão latina que pode ser traduzida livremente por: Agora é hora de beber.
Na passada edição de 26 de Dezembro de 1994 de “O Sorraia”, a notícia que figurava na última página sob o título DEPÓSITO DA FAJARDA e, nomeadamente, o parágrafo onde se afirmava: “sexta-feira, dia 16 de Dezembro, a água começou a correr nas traseiras, vinda do tão esperado depósito.”, provocou uma vaga de reacções em catadupa.
Fosse aquele quinzenário regionalista um órgão em que os leitores se confrontassem com gralhas constantes nas suas páginas, e tal notícia não teria passado de uma pequena tempestade num copo de água; apenas se diria que “O Sorraia” tinha metido água uma vez mais, trocando torneiras por traseiras.
Mas como aquele jornal já habituou os seus leitores, fiéis como uma onda, a uma escrita impoluta, ausente de erros, inexactidões ou aleivosias, em suma, uma escrita de primeira água, tal notícia, a uns, deu água pela barba, enquanto que, a outros, fez ferver em pouca água.
Agora que as água estão mais calmas já podemos, serenamente, dar conta das reacções mais díspares provocadas pela referida notícia, certos de que muita água vai ainda correr sob as pontes.
Quando, ao questionarmos o Chefe de Redacção, este sacudiu a água do capote, vimos logo que o caso trazia água no bico.
De resto, uma importante testemunha da Fajarda, pessoa proba, asseverou-nos que ao longo das semanas anteriores tinha realmente estranhado ver, pela calada da noite, furtivamente colados às empresas posteriores das casas da povoação, grupos de trabalhadores municipais transportando compridos tubos de polietileno, não apercebendo então qual seria o seu objectivo.
Assim, mal aquele periódico apareceu nas bancas, àqueles que andavam sem desejosos de que os serviços municipais ponham a pata na poça, cresceu-lhes a água na boca.
Um indivíduo que estava a mudar a água às azeitonas disse logo: temos o caldo entornado!
Quando inquirimos aquele velho alquilador fajardense, o homem deu com os burrinhos na água e apenas comentou: p`ra trás mija a burra!
Perguntada a sua opinião, aquela bicha bem conhecida, respondeu toda enlevada: Ai, nas traseiras acho o máximo!
Aquele moleiro, quando o questionámos sobre a matéria, mostrou-se radiante e afirmou estar satisfeito pois agora já podia levar a água ao seu moinho. Membros de uma família coruchense, de apelido bem conhecido e popular, sustentaram que tudo iria ficar em águas de Bacalhau. Entretanto, o júbilo foi patente nos habitantes da Fajarda Norte que, como é sabido, sempre olharam de frente a rede de água da Fajarda Sul. Até a homilia de Natal, em que muitos fieis julgaram vislumbrar uma alusão velada ao acontecimento, foi baseada na célebre frase – NUNC EST BIBENDUM – que Jesus da Nazaré terá proferido na Última Ceia. Depois de muita insistência da oposição para que o assunto fosse esclarecido publicamente, um antigo membro de executivo municipal respondeu peremptório e definitivo: O que é importante é que os senhores munícipes vejam as suas necessidades básicas satisfeitas. Pela frente, ou pelas traseiras, tanto importa! Um responsável local do PS, conhecido pelo seu temperamento irascível e por uma certa rudeza, ao ser abordado sobre o assunto por um antigo candidato independente por aquela força política à presidência da Câmara, respondeu-lhe abruptamente, com grosseria, como é seu timbre: Na P…., senhor Almeida!
De antigos membros dissidentes da Comissão Coordenadora da CDU, respigamos do seu comunicado público, a seguinte frase: “…já estamos habituados a que façam tudo nas nossas costas!” Da proclamação do protesto do PSD transcrevemos: “…tanto mais que o PSD chamou atempadamente a atenção da Câmara Municipal para que, com tal procedimento, estaríamos a comprometer a modernização do Concelho, permanecendo na cauda da Europa”. O PCP veio terreiro afirmar que “A água a correr nas traseiras é mais uma prova da transparência clara da política municipal e mais uma prova da confiança no futuro através de uma gestão democrática rumo aos quintais, até à rede de abastecimento público final”.
Mas da disparidade destas reacções, nota mais emotiva que há-de permanecer na memória, foi quando àquela velhinha – que toda a vida carregara para casa, ajoujada, as cantaras de água do poço do quintal – ao abrir pela primeira vez a torneira, se lhe arrasaram os olhos de água
Expessão latina que pode ser traduzida livremente por: Agora é hora de beber.
Fevereiro 95
José Labaredas
1 comentário:
Sublime como só o Zé poderia ser. BEBAMOS ENTÃO
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