As contas ocultas da Madeira, o colossal buraco financeiro, enfim, as tradicionais jardineirices – velhas de décadas e sempre vistas com incomensurável compreensão por todos os presidentes da República e por todos os governos – têm sido notícia destacada em todos os media.
Entretanto, também da Madeira e também fruto das tradicionais jardineirices, chegou uma outra notícia: a revelação de uma fraude eleitoral levada a cabo no Funchal, nas eleições presidenciais que, em 1980, opuseram Ramalho Eanes e Soares Carneiro.
«Eu estava lá e vi como foi», diz António Fonte, na altura militante da JSD e agora deputado regional pelo PND. E conta que a fraude se concretizou «pondo cruzinhas em boletins de voto e descarregando nos cadernos eleitorais» em eleitores abstencionistas, em número de «300 a 400 votos por mesa» – o que fez com que o candidato Ramalho Eanes, vencedor, de facto, em todas as mesas, tenha sido «derrotado» em todas as mesas...
Sintomaticamente, esta notícia, divulgada pelo DN, não teve a mínima repercussão nos restantes media dominantes. E se a fraude agora denunciada não constitui surpresa, também o silenciamento a que foi votada não surpreende.
Ora, em véspera de eleições na Madeira – e quando vêm à baila com tanta insistência as surpreendentes votações do PSD/Jardim em sucessivas eleições – o caso bem merecia ser motivo de reflexão. No acto eleitoral acima referido foi assim e nos outros actos eleitorais, antes e depois desse, como foi?, e no dia 9 como será?...
E, já agora: e aqui, no continente, como foi e como é?...
É sabido que a política de direita recorre a todos os meios para garantir a continuidade necessária ao prosseguimento da sua obra de devastação da democracia de Abril – e que as eleições e os seus resultados constituem o suporte essencial dessa garantia.
Sabe-se, também, como os governos dos últimos 35 anos têm utilizado o aparelho do Estado em desbragada caça ao voto na política comum a todos eles.
Sabe-se, ainda, o papel desempenhado pelos media dominantes enquanto propagandistas da política de direita e dos partidos que a executam e defendem.
Sabe-se, agora, que é possível caçar «300 a 400 votos por mesa»...
Que mais é preciso saber para concluir que eleições destas não passam de uma colossal farsa?