Alfonso Cano, comandante-chefe das Forças Armadas Revolucionarias da Colombia caiu combatendo no dia 4 de Novembro.
Alfonso Cano bateu-se pela libertação da Colombia durante mais de quatro décadas. De origem burguesa, rompeu com sua classe na Universidade de Bogotá quando estudava Antropologia. Dirigente da Juventude comunista conquistou ali o respeito de professores e colegas pelo seu talento, cultura e firmeza de carácter. Era um intelectual brilhante que tinha dos clássicos do marxismo e da História do seu país um conhecimento profundo quando aderiu às FARC.
Terá sido com Jacobo Arenas um dos mais criativos ideólogos da organização revolucionária. Não supreendeu, portanto, a sua nomeação para comandante-chefe quando Manuel Marulanda morreu.
Como era de esperar chovem agora sobre o presidente Juan Manuel Santos felicitações dos dirigentes dos países imperialistas. O crime é por eles transformado em grande vitória da democracia contra o terrorismo.
Os media do sistema já elaboraram e divulgaram uma extensa lista dos «crimes» cometidos pelo «terrorista» e «narcotarfiante» morto.
Omitem obviamente que Alfonso Cano foi o responsável do projecto que as FARC enviaram à ONU e ao governo colombiano nos anos 90, propondo a erradicação da cultura da coca num prazo de 10 anos do município de Cartagena del Chairá, o maior produtor da planta maldita no país. Essa experiência piloto exigiria apenas o modesto financiamento de 10 milhões de dólares. A iniciativa foi, porém imediatamente vetada pelo governo de Bogotá, considerado por Washington modelo de democracia e o seu melhor aliado na América do Sul.
A oligarquia colombiana festejou, naturalmente, com entusiasmo a morte do líder das FARC. A organização guerrilheira define o regime, desde a presidência de Uribe, como fascizante. E não exagera no qualificativo.
O Presidente Juan Manuel Santos, ministros e generais deslocaram-se a Popayan, capital do Departamento do Cauca onde foi assassinado Cano, para ver o seu cadáver, em exposição, condecorar os matadores e celebrar o crime em ambiente de entusiasmo. Os militares esclareceram que no acampamento onde se travou o ultimo combate foram encontrados os computadores do comandante e que o seu conteúdo «será estudado». A notícia logo correu mundo. Tudo indica que o governo, repetindo o uso que fez dos computadores manipulados do comandante Raul Reyes, tornará em breve públicas revelações sensacionais sobre a sua descoberta.
O comandante Alfonso Cano, como outros membros do secretariado do Estado-maior central das FARC tinha a cabeça a premio por mais de um milhão de dólares. É incómodo para Santos e os seus epígonos reconhecer que na Operação «Odisseia» - insulto ao herói grego de Homero - montada para a abater o comandante das FARC participaram 2300 oficiais sargentos e soldados, aviões Super Tucano e muitos helicópteros.
No início do ano o governo de Bogotá divulgou notícias segundo as quais Alfonso Cano se encontraria no Oriente, próximo da fronteira da Venezuela. Eram falsas.
O secretariado das FARC, no momento em que escrevo, ainda não se pronunciou sobre as circunstâncias do crime.
Mas o simples facto de as selvas do oriente do país distarem cerca de 800 quilómetros do município de Suarez, no Cauca, onde ele morreu, após dois bombardeamentos maciços e um cerco montado por tropas especiais convida à reflexão. Duas cadeias de gigantes andinos da Cordilheira Oriental e da Central separam essas frentes de combate.
Ignoro por onde se movimentou Cano nos últimos meses. As declarações ao diário El Tiempo dos militares que o mataram não inspiram confiança. Num ponto coincidem todas: Alfonso Cano caiu combatendo!
A capacidade estratégica e a mobilidade dos guerrilheiros das FARC, cruzando montanhas, rios e florestas, em travessias que a História registou e inspiraram poetas e novelistas somente encontram precedente na saga de Bolívar galgando os Andes, durante a campanha de libertação de Nova Granada (a actual Colombia).
Alfonso Cano, como Jorge Briceño, Jacobo Arenas e Manuel Marulanda souberam pelo seu exemplo, como revolucionários comunistas, conquistar em vida o respeito de milhões de compatriotas. Mortos, os seus nomes permanecerão na História como heróis da América Latina.
Foram duríssimos os golpes recebidos nos últimos anos pela organização guerrilheira mais antiga do Continente, que se bate há mais de quatro décadas por uma Colombia democrática, livre, progressista, enfrentando um exército de 300 000 homens, armado e financiado pelos EUA.
Mas a hierarquia da Igreja e inclusive a oligarquia crioula estão conscientes de que não há solução militar para o trágico conflito que ensanguenta a nação.
A euforia de Juan Manuel Santos – protector de paramilitares assassinos - não consegue ocultar a sua certeza de que o combate das FARC vai prosseguir. Ele próprio reconheceu já essa evidência. Os media oficiais avaliam em 10 000 o numero actual de guerrilheiros das FARC.
A luta continua na Colombia!
Vila Nova de Gaia, 5 de Novembro de 2011