"O que diferencia «uma mudança reformista» de «uma mudança não reformista» num regime político, é que no primeiro caso o poder continua fundamentalmente nas mãos da antiga classe dominante e que no segundo o poder passa das mãos dessa classe para uma nova."

sexta-feira, 17 de junho de 2011

A escolha certa

Ao cognome de pai da política de direita, Mário Soares junta um rol infindável de epítetos da mesma família.

E o facto de, sendo ele o maior inimigo da democracia de Abril, lograr fazer-se passar por «pai da democracia», faz com que lhe assente como uma luva o título de rei dos embusteiros.

Curiosamente, à medida que a idade lhe vai pesando – e à semelhança do criminoso que volta ao local do crime para apreciar a obra feita - ele desdobra-se em revelações sobre as suas actividades ocultas, desnudando-se e expondo as vergonhas, das quais, babado, se orgulha.

Disse ele, há dias, relembrando a concentração de 19 de Julho de 1975: «Conspirei activamente com D. António Ribeiro». E explicou: «todos os párocos disseram nas igrejas que seria bom que os católicos se juntassem na Fonte Luminosa contra o PCP». E confessou: (sem o apoio da Igreja) «nós não teríamos conseguido aquela manifestação que derrubou, no fundo, o caminho para onde se estava a dirigir o País».

Dizendo o que disse, Soares não disse nada que não se soubesse: a novidade está em ser ele a dizê-lo... sabendo bem que as razões que levaram a alta hierarquia da Igreja a apoiá-lo contra Abril são, no essencial, as mesmas que a levaram a apoiar o regime fascista durante quase meio século.

Notícia foi, também, o encontro Soares/Carlucci, na embaixada dos EUA - provavelmente na mesma sala onde, no auge da contra-revolução, ao abrigo do investimento nele feito pela CIA, era semanalmente recebido para despacho.

Recorde-se que Carlucci - o mandante e pagador - era senhor de um notável currículo nesta matéria, comprando quem se lhe vendia e eliminando pragmaticamente os que, com dignidade, recusavam trair os seus povos e as suas pátrias.

Desde novo, ele esteve em todo o lado onde a democracia, a liberdade e os direitos humanos o chamavam: no Congo, onde organizou o bárbaro assassinato de Patrice Lumumba, em 1960; na Tanzânia, donde foi expulso por ligação ao golpe contra Nyerere, em1964 – dali partindo para o Brasil com a tarefa de assegurar a execução de vários dirigentes progressistas.

E estava em Portugal para o que desse e viesse.

No Congo, face à dignidade de Lumumba, fez o que fez.

Em Portugal, fazendo de Soares o seu homem de mão, fez a escolha certa.


4 comentários:

Francisco disse...

Snr. Casanova
O Snr. é que está ultrapassado, não sabe o que diz

Anónimo disse...

eu cá não concordo nada, o zé de ultrapassado não tem nada, ele leva é voltas de avanço!!! e do 25 de Abril até agora, muita coisa se previu!!! pouca vez se enganou! Olha o estado das coisas ...

Anónimo disse...

e Gostei do blog, é para voltar!

Anónimo disse...

O Francisco das 22:09 lá sabe por que é que diz o que diz; só é pena não fundamentar, não argumentar, não dizer o que pensa... mas talvez não queira mostrar a careca.