"O que diferencia «uma mudança reformista» de «uma mudança não reformista» num regime político, é que no primeiro caso o poder continua fundamentalmente nas mãos da antiga classe dominante e que no segundo o poder passa das mãos dessa classe para uma nova."

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Palavras para quê?

Palavras para quê?
__
Nas vésperas da Festa, um (ou uma) jornalista da Lusa, decidiu, sabe-se bem porquê, entrar na onda de anticomunismo estúpido na qual surfavam, estupidamente deliciados, os seus colegas de serviço ao PCP nos média dominantes. Aí, há-de ter-se-lhe colocado a questão da novidade, isto é, de não se limitar a repetir o que os colegas - gastos de imaginação, velhinhos, caquéticos, senis - não se cansavam de bolsar todos os dias.
Foi à Revista da Festa, leu, leu (parto do princípio de que o, ou a, jornalista em questão sabe ler); reflectiu, reflectiu (suponho que ao, ou à, jornalista em causa, acontece, de quando em quando, reflectir) - e, nada, zero, nicles, népia. Que ferro!
Às tantas – já o cheiro a meninges queimadas chegava ao Colombo – tomou a corajosa decisão de criar uma notícia. E criou. Assim: pegou no editorial da Revista, tresleu-o, rasgou-o, deitou-o fora e, num fulgurante rasgo de profissionalismo, informou, com foguetes, que o editorialista havia chamado «fascista» ao primeiro-ministro.
Aí estava, enfim, vivinha a saltar, a novidade desejada!, o ansiado furo! E tamanha foi a euforia que nem sequer pensou (presumindo-se que, às vezes, pensa) que qualquer leitor medianamente inteligente, confrontando a novidade com o editorial da Revista, constataria estar perante uma grosseira manipulação, uma reles invencionice, uma trapacice rasca.
Foi então que, inspirado na novidade da Lusa, e captando-lhe a essência, um colega do DN – tão useiro e vezeiro nestas andanças do anti-pêcêpê-ismo-militante que dele pode dizer-se ser mais isso do que jornalista propriamente dito - disparou um texto intitulado «Eles já chamam “fascista” a Sócrates» - isto, sem ter lido o editorial (ou tendo-o lido à sua maneira). Assim divulgada, a novidade espalhou-se como escalracho, feita verdade por muito repetida - como ensinou Goebbels e estes, digamos assim, jornalistas praticam. A novidade foi agarrada desde logo pelas mãos sôfregas de um blogueiro e de um bloqueiro: o primeiro, a tempo inteiro ao serviço de Sócrates; o segundo também ex-PCP. Nenhum deles leu o editorial. Ambos divulgaram a consabida falsidade.
Palavras para quê?: é o anticomunismo primário em acção.
__

Sem comentários: