"O que diferencia «uma mudança reformista» de «uma mudança não reformista» num regime político, é que no primeiro caso o poder continua fundamentalmente nas mãos da antiga classe dominante e que no segundo o poder passa das mãos dessa classe para uma nova."

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

E em Portugal?

Falando na Região Autónoma da Madeira, onde se deslocou para participar no Conselho Informal dos Ministros do Desenvolvimento da União Europeia na qualidade de Enviado Especial das Nações Unidas para a Luta contra a Tuberculose, o ex-Presidente da República, Jorge Sampaio, declarou que «não é possível levar por diante este combate à tuberculose nos países em desenvolvimento sem termos um reforço muito grande dos trabalhadores de Saúde, englobando, nestes, técnicos, enfermeiros e médicos, que têm como função levar à prática todos os mecanismos de prevenção, combate e seguimento dos doentes».
E para que não restassem dúvidas, após assinalar que «há um défice de quatro milhões de trabalhadores dos serviços de Saúde em todo o mundo», Sampaio acrescentou que «sem o reforço dos serviços de Saúde à escala mundial é muito difícil, pois mesmo que tenhamos as políticas correctas, não temos maneira de as implementar».
Acontece que o actual Governo de José Sócrates, dito «socialista», esteve também presente neste Conselho Informal e não pôde deixar de ouvir o ex-Presidente da República e seu correligionário de sempre. Todavia, não tugiu nem mugiu sobre o caso, ao contrário do que tem usado sempre que da Madeira sopra alguma alarvidade – o que, como se sabe, é sempre corriqueiro sob os desmandos de Jardim.
Não. Nesta matéria, o Governo de José Sócrates, por interposto comissário Correia de Campos, prefere prosseguir com método e afinco o desmantelamento do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
A ofensiva é generalizada e abrange tudo o que diz respeito ao sistema do SNS: tanto atinge os profissionais de todas as categorias, como as valências e as próprias instalações.
Em relação aos profissionais, que se dividem essencialmente em médicos e enfermeiros, o ataque centra-se presentemente nestes últimos, designadamente através do já famoso decreto-lei 276-A, que entrou em vigor em 1 de Agosto último impondo a caducidade dos contratos a prazo actuais logo que cheguem ao seu termo, e determinando novas regras que, na prática, se traduzirão pelo despedimento de milhares de enfermeiros, entretanto já a trabalhar há largos anos no SNS com contratos a prazo sucessivamente prorrogados, mas que agora deixarão de o ser. Isto quando desde 1997 que não há admissões de efectivos no sector, o que dá a Portugal o mais baixo rácio de enfermeiro por habitante na União Europeia. Quanto aos médicos, continua a sangria de quadros altamente especializados para o sector privado a troco de melhores salários que, entretanto, o ministério da Saúde deliberadamente não paga nos hospitais públicos, enquanto afunila e dificulta as carreiras de todos os clínicos. Está bem de ver onde isto conduz, a prazo.
Em relação às valências, exemplifique-se com o que está a acontecer na de Psicologia: no Hospital Psiquiátrico Miguel Bombarda, em Lisboa, num quadro de 20 psicólogos apenas dois estão efectivos e sete foram recentemente «dispensados» pela administração, no Garcia de Orta, em Almada, a equipa de psicólogos foi linearmente extinta e o Santa Maria, em Lisboa, não recebeu este ano estagiários.
Quanto às instalações, basta recordar o encerramento sistemático e generalizado de Centros de Saúde, Postos Médicos e Maternidades.
Entretanto, toda esta meticulosa desarticulação do SNS vem sempre acompanhada de desavergonhadas garantias de que é tudo «para melhorar os serviços», embora já não haja ninguém, neste País, que possa acreditar em tão despudorados demagogos. Que responde José Sócrates à afirmação de Jorge Sampaio de que é indispensável «um reforço muito grande dos trabalhadores da Saúde»?
E que diz o Enviado da ONU, Jorge Sampaio, à transição da Saúde para um modelo de Terceiro Mundo, operada em Portugal por José Sócrates?
_

1 comentário:

Anónimo disse...

Pedro
Toda esta farinha é...Do mesmo saco
O povo escolheu esta farinha!
Alguém mais experiente P.C.P.avisou, e continua avisando.
Quando será que o POVO aprende?????
O que este DESgoverno está a fazer com a saúde, é desumano!
josé manangão