"O que diferencia «uma mudança reformista» de «uma mudança não reformista» num regime político, é que no primeiro caso o poder continua fundamentalmente nas mãos da antiga classe dominante e que no segundo o poder passa das mãos dessa classe para uma nova."

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Os pontos nos is

Paulatinamente, ao ritmo de uma medida por semana, vem o actual Governo implementando um conjunto de medidas com que se pretende restringir drasticamente direitos sociais e direitos laborais, juridicamente garantidos, conquistados ao longo de muitas décadas.
Há duas semanas foi o imposto sobre o 13.º mês (50%), a semana passada foi o aumento de 15% do preço dos transportes públicos, esta semana o pacote laboral.
Estas decisões apresentadas como inapeláveis, e onde começam a surgir tenuamente tiques ditatoriais (veja-se a posição assumida pela presidente da Assembleia da República sobre o direito de parecer das organizações dos trabalhadores na discussão do pacote laboral), são-nos apresentadas como consequência da situação económica do País que, dizem, não comporta os custos desses direitos.
Como inserir neste discurso o vencimento do agora nomeado presidente da CGD que vai auferir mensalmente mais de 46 salários mínimos?!! O princípio de que o País não comporta determinados custos não se aplica aqui?
O desfasamento entre os salários dos trabalhadores portugueses e o custo de vida cresce exponencialmente tornando-se incomportável e insuportável para a maior parte da população. Inversamente, até ao momento, não foi apresentada uma única medida que penalize o capital.
Aliás, esta medida de um aumento brutal do preço dos transportes visa, essencialmente, sanar as empresas públicas de transportes das dívidas existentes para depois as privatizar. Ou seja: aqui vamos todos fazer mais um esforçozinho para dar uma ajuda ao capitalismo a braços com uma crise que ele próprio criou.
Esta crise não é nossa – é uma crise do capitalismo que, «democraticamente» nos impõem que paguemos.
Estas decisões fazem lembrar uma frase atribuída ao ditador Salazar, que continua bem vivo na memória colectiva do nosso povo – um dia perante uma decisão que apenas penalizava os mais pobres, alguém o questionou pelo facto de os ricos não serem afectados, ao que ele terá respondido «os pobres são muitos e já estão habituados».
Ao poder político aqui fica o recado – o povo português jamais aceitará ser de novo tratado da mesma forma.

Aurélio Santos  

1 comentário:

Anónimo disse...

Mas um dia se os pobres se zangarem a sério, é quando o mundo pula e avança, até lá...