"O que diferencia «uma mudança reformista» de «uma mudança não reformista» num regime político, é que no primeiro caso o poder continua fundamentalmente nas mãos da antiga classe dominante e que no segundo o poder passa das mãos dessa classe para uma nova."

quarta-feira, 8 de março de 2017

8 DE MARÇO DIA INTERNACIONAL DA MULHER


Em homenagem a todas as mulheres que ao longo dos anos lutaram (em particular aquelas que antes do 25 de Abril sem desfalecimentos e com determinação enfrentaram os agrários e as forças fascistas) para que hoje seja possível viver em liberdade e democracia e reflectir sobre aquele tempo de miséria e opressão, continuando a lutar contra as políticas de direita que hoje nos empurram para situações quase iguais, às que se passavam naquele tempo.
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Aqui fica o relato, na primeira pessoa de um de muitos episódios dessa luta, das mulheres do Couço nos anos 60, que nos é descrito por Maria Rosa Viseu, Operária Agrícola e militante do PCP.
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«Naquele tempo trabalhávamos de sol a sol. Saiamos de casa de noite, entrávamos em casa de noite.
Outras vezes trabalhávamos de empreitada. Chegávamos ao trabalho os manageiros talhavam as empreitadas, quando as acabávamos íamos para casa. O patrão para quem nós trabalhávamos, não deixava o manageiro talhar as empreitadas, era ele que as talhava. Talhava-as muito grandes que nós quase nunca as acabávamos. Era ele que ia sempre despegar-nos do trabalho. Começámos a ver que o patrão nos queria enganar.
Nenhuma de nós tinha relógio. Começamos a guiar-nos pela camioneta da carreira, que passava sempre às 5h da tarde, era branca, toda branca, pensámos que não podíamos trabalhar mais tempo. Uma das mulheres sobe ao cabeço, vê passar a camioneta e diz para as companheiras: - a noiva já lá vai.
Uma delas, mais idosa, pergunta ao manageiro:
- Então não nos despega? Olhe que já são horas!
- Não tenho ordens para as despegar!
- Ah não? Pois então despegamo-“se” a gente.
Ela saltou de dentro do canteiro do arroz para o “combro” (parede de suporte de terreno em socalco) e 70 mulheres fizeram o mesmo e viemos para casa.
No outro dia, ao nascer do sol, lá estava o patrão e nós negociamos com ele. Se não nos viesse despegar a horas, não trabalhávamos mais. O arroz estava cravadinho de erva. O patrão, como precisava da gente, concordou.
Foi sempre assim, tínhamos de lutar por tudo, até para ter a cozinha à sombra. O patrão queria que a cozinha ficasse o mais perto do trabalho, para não perdermos tempo no caminho. Não se importava que comêssemos ao sol ou à sombra.
Sofremos muito!»
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Não podemos esquecer! Foi assim, nestas condições que as nossas mães e avós viveram, trabalharam e lutaram, para que hoje nós tenhamos “outra vida”.
Saibamos ser dignos delas!

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