"O que diferencia «uma mudança reformista» de «uma mudança não reformista» num regime político, é que no primeiro caso o poder continua fundamentalmente nas mãos da antiga classe dominante e que no segundo o poder passa das mãos dessa classe para uma nova."

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Uma história por contar

Não me surpreende o silêncio que a generalidade da comunicação social dominante tem feito sobre o livro "O 25 de Novembro e os media estatizados”... Um silêncio de rachar pedras!

Acabou de aparecer nas livrarias, em Dezembro, o livro de Ribeiro Cardoso, “O 25 de Novembro e os media estatizados”, com o subtítulo, “Uma história por contar”. Fica assim o ano de 2017 marcado pela publicação de dois livros, o referido, e o “Quando Portugal ardeu”, de Miguel Carvalho, que são importantes contributos para combater a amnésia sobre o que foi o PREC e o 25 de Novembro. E, fundamentalmente, para ajudar a desmontar as mistificações monstruosas que sobre esses acontecimentos a historiografia “oficiosa” foi tecendo, com muita ajuda da academia e total e activa cumplicidade dos media dominantes. Casos como o da Renascença, o do República ou dos “saneados” do Diário de Notícias por José Saramago! Porque, como alguns textos a propósito das “comemorações” de algumas datas demonstram, há os que continuam convencidos que a mentira repetida acabará por ser a verdade!
Bem-haja o jornalista Ribeiro Cardoso por nos vir recordar de forma viva e impressiva, fundamentada e suportada por muitos depoimentos dos que directamente participaram, ou melhor, sofreram na pele a arbitrariedade, ilegitimidade das decisões então tomadas pelo poder político de direita, PS, PSD e CDS, no pós 25 de Novembro. Tratou-se “de 152 suspensões e despedimentos de trabalhadores da comunicação estatizada sem processo disciplinar e sem direito a defesa no 25 de Novembro.” Que ao fim de vários anos foram absolvidos pelos tribunais, mas já sem remédio para carreiras profissionais arruinadas e dezenas de vidas pessoais e familiares destruídas. Não me surpreende, assim, o silêncio que a generalidade da comunicação social dominante tem feito sobre o livro desde que ele foi apresentado, em fins de Novembro. Um silêncio de rachar pedras!
E a leitura do livro acabou por me levar alguma resposta a outras preocupações sobre a comunicação social que temos. Será que o domínio absoluto de um pensamento quase único, unidireccional, pejado de ignorância e falta de rigor, de sistemática ausência de real investigação jornalística, de repetição de chavões e empestado de preconceitos, tem alguma coisa a ver com a prática liquidação da cultura de resistência, rebeldia, empenhamento social e cívico, coragem profissional de toda uma geração profissional saneada pelo 25 de Novembro? Mesmo sabendo que uma parte deles, felizmente, ainda anda por aí, a remar contra a maré. (Mesmo sabendo que é também o resultado da quase total eliminação da comunicação social pública, pela sua entrega aos media do capital privado, ditos “independentes”).
Eu tenho de perceber, por exemplo, como é que esta comunicação social foi capaz de alinhar, a propósito da revisão da Lei do Financiamento dos Partidos, na espantosa concentração de mentiras, exibição de ignorância e má-fé ao serviço da exploração mais rasteira de populismo e demagogia, em nome da defesa da transparência do regime democrático. Eu tenho de perceber muitas outras coisas… mas acho que tudo está claro. Muito claro.

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