Na tomada de posse do Governo o Presidente proclamou que “Portugal não pode falhar” e o PM respondeu “sei que Portugal não falhará”.
Ficam-lhes bem estas manifestações de voluntarismo. Mas receio que a questão realista seja a de saber se Portugal pode deixar de falhar, com a receita prevista.
Socorramo-nos do relatório da Missão do FMI. Até 2013 o défice público baixará para 3% do PIB, com a parcela dos juros a quase duplicar. À custa de enormes sacrifícios sociais: desemprego a ultrapassar os 13%, salários reais a decrescerem 7% e o consumo privado a retrair-se 9,5%. As dívidas pública e externa pularão para os 115% e 123% do PIB. O investimento privado cairá mais 7% e o PIB diminuirá cerca de 3%. Cereja no bolo, apesar da redução dos custos salariais a competitividade (medida pela taxa de câmbio efectiva real) continuará a degradar-se!
Em suma, aquele voluntarismo olvida a questão de fundo sem cuja resolução não há hipóteses de melhorar. Questão que é colocada no primeiro ponto do relatório da Missão: “os desequilíbrios económicos de Portugal têm aumentado consideravelmente desde a sua entrada na área Euro”. Sublinhando depois que recuperar a competitividade com a moeda única será indubitavelmente difícil.
É este o nó górdio do futuro, do falhar ou não falhar. O baixo crescimento é o problema fundamental e está intrinsecamente relacionado com o Euro. Ou as normas e prioridades da Zona Euro e do Euro mudam substancialmente ou seremos obrigados a abandoná-los. Com custos pesados, mas que ao menos mostram luz ao fundo do túnel.
Ignorá-lo será contribuir para a concretização da “profecia” de Paul Samuelson: “rezem para que no novo século os livros de história económica não relembrem a experiência do euro como um erro trágico”.
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