«Um mundo em mudança» é o título de um livro no qual Mário Soares reincide na publicação de alguns dos artigos que tem vindo a dar à luz em vários jornais – um livro sobre o qual deu caudalosa e garrida entrevista ao Semanário Económico e para cuja capa chamou Obama, mais o seu sorriso, a par do foto também sorridente do autor reincidente.
A «mudança», obviamente, é Obama e a «nova era» por este iniciada: «nova era» que, assim espera e confia Soares, virá salvar o capitalismo da mais grave e profunda de todas as suas crises.
«Salvar», não, corrige o entrevistado: «o capitalismo não tem que ser salvo», porque, se é verdade que «o capitalismo de casino está morto, o capitalismo em geral não está», graças a Deus.
Assim sendo, o capitalismo tem é que «ser corrigido com princípios éticos», após o que ficará como novo e pronto para as curvas, ou seja, pronto para explorar eticamente – que é a forma democrática de explorar. Sobretudo, adverte, e essa é, para ele, a questão essencial, não venham para cá com ideias de «voltar ao comunismo puro e duro»: o comunismo morreu, implodiu: «voltar às ideias de Marx», sim senhor, «mas não lido pela cartilha leninista, estalinista ou maoista» - porque, explica Soares, «Marx e Engels eram socialistas» e, por isso, «estamos a voltar a algumas das suas ideias, sobretudo quanto à análise que fizeram do capitalismo». Análise que, de acordo com a peculiar leitura que dela faz o marxista Soares, conduz à exigência de que «o capitalismo seja corrigido»…
Por tudo isto, é em Obama – outro marxista - que ele, Soares, deposita todas as suas esperanças de correcção ética do capitalismo.
E tão longe leva a sua fé em Obama que o trata como se fosse seu - seu e de mais ninguém. Daí a irritação que lhe causam os elogios despejados por Durão Barroso sobre o Presidente dos EUA - esse Barroso da Cimeira da Vergonha, que foi só elogios e sorrisos para o Bush, não tem legitimidade para vir, agora, elogiar e sorrir para Obama.
Legitimidade tem, isso sim, Soares, que sempre criticou o Bush e sempre elogiou quem o merecia: agora, Obama e, antes, Clinton, por exemplo. Para não falar do Carlucci...
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