"O que diferencia «uma mudança reformista» de «uma mudança não reformista» num regime político, é que no primeiro caso o poder continua fundamentalmente nas mãos da antiga classe dominante e que no segundo o poder passa das mãos dessa classe para uma nova."

sexta-feira, 24 de abril de 2009

«Menos bem»

Duas frases resumiram o objectivo do primeiro-ministro José Sócrates na entrevista que esta semana concedeu à RTP-1: o de demonstrar que o seu Governo está a praticar a política mais adequada para combater a crise e que esta vem inteiramente de fora.
Na primeira, decretava que «a grande resposta à crise foram os apoios sociais que fizemos nos últimos quatro anos»; na segunda, determinava que «a situação da nossa economia deriva da situação económica mundial». Limpinho e sem rugas.
Aparentemente, o primeiro-ministro está convencido que o País considerou como «apoios sociais» a destruição de todos os subsistemas de Saúde sob o extraordinário argumento de que é preciso «fazer justiça neste sector» retirando previlégios para «nivelar por baixo», a desarticulação de carreiras e direitos dos funcionários públicos sob a acusação de que eram uns «privilegiados» mais ou menos relapsos, a degradação da gestão democrática das escolas, da carreira docente e do próprio Ensino sob o imperativo de «reformar a Educação» ou, ainda, o encerramento de Urgências e Centros de Saúde para «melhorar a assistência» e o generalizado alargamento das idades de reforma concomitante com a diminuição das ditas para «sustentabilizar a Segurança Social».
Isto falando apenas de alguns dos tais «apoios sociais» que o Governo Sócrates se encarniçou a realizar, mal se apanhou no alto da maioria absoluta.
Quanto à crise que «vem toda do estrangeiro», Sócrates parece esquecer o Código Laboral imposto «cá dentro» e à pressa pelo seu Governo para mais um esquartejamento dos direitos dos trabalhadores, a par dos milhares de milhões tirados do País para calafetar os insondáveis buracos financeiros na banca portuguesa, enquanto as dezenas de milhares de pequenas e médias empresas – que garantem 90% dos postos de trabalho em Portugal - continuam estranguladas e à espera de apoios que o Governo de Sócrates nem em sonhos se lembra de lhes dar.
Isto, mais uma vez, falando apenas de alguns exemplos.
A entrevista resvalaria ainda mais quando Sócrates foi confrontado com as críticas directas do Presidente da República ao seu Governo, advertindo que «não se deve governar para as estatísticas» e iludir assim as dificuldades que o País enfrenta. Neste ponto, o primeiro-ministro não hesitou em se contradizer a si próprio, afirmando agora que «mantenho com o senhor Presidente da República, como sempre mantive, uma boa relação institucional», enquanto há escassos três dias respondera ao mesmo Presidente que «não aceito bota-abaixismos nem pessimismos».
Também deve estar convencido que o País é tão imbecilmente amnésico, que já esquece o que ouviu três dias antes.
Mas onde o resvalamento pendeu para o descalabro foi com o «caso Freeport». Aí, Sócrates destemperou ao ponto de anatemizar os próprios jornalistas, que reduziu a «indivíduos» que o andam a «insultar» e, como tal, hão-de malhar merecidamente com os ossos em tribunal.
E dizia isto extorquindo aos entrevistadores a contrafeita aquiescência sobre não estar «a perseguir jornalistas, mas indivíduos que o insultavam».
Nem os cinco directores de jornais e os quatro encartados comentadores, mobilizados de atracão na SIC-Notícias e RTPN para louvaminhar o entrevistado, conseguiram amenizar a coisa: irrecusavelmente, o primeiro-ministro estivera «menos bem».
Ao ponto de temerem que, lá para Outubro, é mesmo capaz de acabar mal...

1 comentário:

Anónimo disse...

Ah grande Henrique, camarada da minha terra! O Couço!

Temos que derrotar este partido "travestido" que é o Partido Socialista

Abril de novo!