«A Europa e o Mundo respiram de alívio». Foi este o título de variados jornais a propósito das eleições presidenciais francesas.
Não é a primeira vez que se diz «tudo e um par de botas» sobre as eleições em França. Há cinco anos Hollande era dado como o homem que ia «alterar o paradigma» e «mudar a França e a Europa». Agora a «Europa e o Mundo respiram de alívio», «virou-se uma página» na política francesa e o povo francês «escolheu um futuro europeu» e «o caminho da Europa forte e Unida».
Mas quem é que pode respirar de alívio? É naturalmente positivo que Le Pen não tenha sido eleita, mas as causas do crescimento da extrema-direita mantiveram-se intocadas. Desde logo porque Macron foi muito claro na campanha eleitoral e no discurso de vitória: seguirá um programa ultraliberal desenhado pelo grande capital e defenderá com unhas e dentes a União Europeia e os seus pilares neoliberal, militarista e federalista. E essa é uma das causas da extrema-direita.
Macron não significa nenhum virar de página na política francesa, bem pelo contrário. A novidade em França é que a morte anunciada do PS francês deu à luz uma força política, apresentada como «nova» e sem ideologia, mas na verdade directamente controlada pelo grande capital. Uma força que para lá de Macron, ex-banqueiro, tem na sua equipa de direcção alguns dos principais quadros de grupos como a Altice ou a Bouygues Télécom. Um partido para onde correm já figuras como Manuel Valls e que tem na «short list» para primeiro-ministro nomes como Christine Lagarde ou Bayrou.
Macron representa o que de mais velho existe na política: a manipulação. A sua «Europa forte e Unida» irá aprofundar ainda mais as contradições. O seu discurso, também populista, criará, quando confrontado com a sua real política, ainda maiores frustrações no povo francês. Não, não se pode respirar de alívio, de forma nenhuma. O respiro de alívio do grande capital visa asfixiar os caminhos da alternativa. Mas a luta continua!
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