"O que diferencia «uma mudança reformista» de «uma mudança não reformista» num regime político, é que no primeiro caso o poder continua fundamentalmente nas mãos da antiga classe dominante e que no segundo o poder passa das mãos dessa classe para uma nova."

domingo, 3 de novembro de 2013

O critério


O Cardeal Patriarca de Lisboa participou numa conferência – «Caridade é a fé em acção» –, em Setúbal, no sábado passado.
Como é sabido, a caridade é tema recorrente na oratória de D. José Policarpo. Não têm conta as vezes que sobre o assunto dissertou desde que ocupou o patriarcal cargo – naturalmente, repetindo sempre o que, ao longo dos tempos, disseram os seus antecessores: António Ribeiro, Gonçalves Cerejeira...
D. Policarpo falou também da situação do País. Para sinalizar na política das troikas as causa da pobreza, da miséria e da fome que alimentam a sua caridade? Para se solidarizar com os milhões de portugueses vítimas do desemprego, dos roubos nos salários e reformas, do saque aos direitos humanos mais elementares? Não. Bem pelo contrário: para se identificar com o discurso dos executantes da política causadora dos dramas que atormentam milhões de portugueses. Para dizer, como dizem os governantes que, sem a caridosa ajuda da benemérita troika ocupante, «Portugal só teria dinheiro para mês e meio e não haveria dinheiro para pagar salários e pensões». E especialmente para expressar o seu desagrado pelas manifestações dos trabalhadores exigindo uma nova política e o respeito pelos seus direitos.
Manifestações e protestos dos trabalhadores e das populações são coisas que D. Policarpo não aprecia. É até com um leve toque de irritada impaciência que expressa o seu desagrado: «Parece que ninguém sabe que Portugal está numa crise» e que «o governo não tem condições para satisfazer as reivindicações de sindicatos»...
Alguns dignitários da Igreja têm, sobre as manifestações de massas uma posição assente num critério bem concreto e definido, e onde a caridade está sempre presente. Aqui há uns anos, o então Patriarca de Lisboa, D. António Ribeiro, não hesitou em conspirar activamente com Soares & Cia, utilizando o púlpito para mobilizar os fiéis para se manifestarem contra a democracia de Abril – e ainda há pouco ouvimos o Papa Francisco incentivar os brasileiros a irem para a rua «defender os seus direitos»…

É esse o critério: sempre contra a política de justiça social e sempre a favor do alimento da caridade: a exploração, a pobreza, a fome.

José Casanova

1 comentário:

Anónimo disse...

Um destes dias ainda vemos os Comunas a ir à missa ao Domingo, mais o barreirinhas.