Em homenagem a todas as mulheres que ao longo dos anos lutaram (em particular aquelas que antes do 25 de Abril sem desfalecimentos e com determinação enfrentaram os agrários e as forças fascistas) para que hoje seja possível viver em liberdade e democracia e reflectir sobre aquele tempo de miséria e opressão, continuando a lutar contra as políticas de direita que hoje nos empurram para situações quase iguais, às que se passavam naquele tempo.
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Aqui fica o relato, na primeira pessoa de um de muitos episódios dessa luta, das mulheres do Couço nos anos 60, que nos é descrito por Maria Rosa Viseu, Operária Agrícola e militante do PCP.
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«Naquele tempo trabalhávamos de sol a sol. Saiamos de casa de noite, entrávamos em casa de noite.
Outras vezes trabalhávamos de empreitada. Chegávamos ao trabalho os manageiros talhavam as empreitadas, quando as acabávamos íamos para casa. O patrão para quem nós trabalhávamos, não deixava o manageiro talhar as empreitadas, era ele que as talhava. Talhava-as muito grandes que nós quase nunca as acabávamos. Era ele que ia sempre despegar-nos do trabalho. Começámos a ver que o patrão nos queria enganar.
Nenhuma de nós tinha relógio. Começamos a guiar-nos pela camioneta da carreira, que passava sempre às 5h da tarde, era branca, toda branca, pensámos que não podíamos trabalhar mais tempo. Uma das mulheres sobe ao cabeço, vê passar a camioneta e diz para as companheiras: - a noiva já lá vai.
Nenhuma de nós tinha relógio. Começamos a guiar-nos pela camioneta da carreira, que passava sempre às 5h da tarde, era branca, toda branca, pensámos que não podíamos trabalhar mais tempo. Uma das mulheres sobe ao cabeço, vê passar a camioneta e diz para as companheiras: - a noiva já lá vai.
Uma delas, mais idosa, pergunta ao manageiro:
- Então não nos despega? Olhe que já são horas!
- Não tenho ordens para as despegar!
- Então não nos despega? Olhe que já são horas!
- Não tenho ordens para as despegar!
- Ah não? Pois então despegamo-“se” a gente.
Ela saltou de dentro do canteiro do arroz para o “combro” (parede de suporte de terreno em socalco) e 70 mulheres fizeram o mesmo e viemos para casa.
Ela saltou de dentro do canteiro do arroz para o “combro” (parede de suporte de terreno em socalco) e 70 mulheres fizeram o mesmo e viemos para casa.
No outro dia, ao nascer do sol, lá estava o patrão e nós negociamos com ele. Se não nos viesse despegar a horas, não trabalhávamos mais. O arroz estava cravadinho de erva. O patrão, como precisava da gente, concordou.
Foi sempre assim, tínhamos de lutar por tudo, até para ter a cozinha à sombra. O patrão queria que a cozinha ficasse o mais perto do trabalho, para não perdermos tempo no caminho. Não se importava que comêssemos ao sol ou à sombra.
Sofremos muito!»
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Não podemos esquecer! Foi assim, nestas condições que as nossas mães e avós viveram, trabalharam e lutaram, para que hoje nós tenhamos “outra vida”.
Saibamos ser dignos delas!
Saibamos ser dignos delas!
4 comentários:
Até me fizeste chorar com este post!!! VIVA AS MULHERES VIVA AS MULHERES DO COUÇO!!!
Vivam essas mulheres que tanto lutaram!
Faço votos que este "post" desperte naqueles que o lerem motivação e coragem para fazerem o que tem de ser feito.
Não basta estar de acordo e ficar comovido(a)é preciso Mais!
Numa altura em que no nosso concelho se prepõe aos trabalhadores , como é exemplo a Tegael, que aceitem as inevitabilidades do "destino" e que se resignem, aceitando que lhe reduzam o salário e que vão trabalhar para fora perdendo dinheiro, este é um exemplo que nos deve de orgulhar e inspirar.
A Maria Rosa Viseu e tantas outras protagonistas deste episódio são grandes mulheres, mulher que construíram o Portugal de Abril, exemplo que não devemos e não podemos esquecer. Sofreram repressão, fome, tortura e a descriminação, mas souberam unir-se numa luta igual à que hoje os trabalhadores portugueses travam... uma luta pela liberdade e pela Democracia.
Sinto um imenso orgulho de ser camarada destas mulheres, hoje e sempre merecem o meu, o nosso respeito e admiração, afinal são as heroínas de Portugal, são aquelas que não são imortais, nem tem super poderes mas que nos deram o que temos hoje e que passados tantos anos com a sua presença contribuem para nos continuar a fazer acreditar que é possível e vale a pena.
Obrigado Maria Rosa.
Obrigado às mulheres que lutaram e lutam por nós.
Viva o 8 de Março.
Viva a luta dos trabalhadores.
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