"O que diferencia «uma mudança reformista» de «uma mudança não reformista» num regime político, é que no primeiro caso o poder continua fundamentalmente nas mãos da antiga classe dominante e que no segundo o poder passa das mãos dessa classe para uma nova."

quinta-feira, 5 de março de 2009

Pachorra

Não sei se alguém teve pachorra para assistir, na televisão, ao incensório de Sócrates – um dia destes ainda vai ser canonizado, com o auxílio de algum policarpo que lhe absolva os pecadilhos.
O chamado congresso do PS, armado em Espinho – já é tempo de espinhos, que as rosas foram comidas – teve, para além do show, apenas uma particularidade relevante. Como fez questão de sublinhar o professor Marcelo sobre o conteúdo, é que não houve conteúdo. Tal apreciação foi certamente a que reuniu mais consenso entre os «observadores». Mesmo o inefável José Manuel Fernandes, defensor do socratismo à portuguesa até ao momento em que o patrão começou a torcer o nariz ao primeiro-ministro que mais favores lhe fez, concluiu o óbvio. Um congresso do PCP tem mais debate do que aquele que se viu no fim-de-semana em redor de Sócrates e da sua corte veneradora e obrigada. E se José Manuel Fernandes não fosse um anticomunista primário, as palavras que escreve não necessitariam de ironia. Se ele se desse ao trabalho de apreciar os trabalhos do Encontro do PCP, realizado no mesmo fim-de-semana em Almada, teria de concluir que – mesmo tratando-se de uma iniciativa sujeita a um tema – as intervenções dos comunistas centram-se nos problemas do País, exprimem o protesto contra a política de direita que o arruina e avançam propostas para minimizar os efeitos da crise capitalista que se abate sobre os trabalhadores e o povo. E apontam a solução, que é o reforço da CDU e do PCP, a ruptura com esta política submetida aos interesses do capital e do imperialismo, o alcançar de condições para criar em Portugal uma democracia avançada rumo ao socialismo.
Os partidos da burguesia, com o PS ainda à frente, partilham o mesmo figurino. E, se é certo que alguns comentadores chamam debate à luta de galos e galinhos para a conquista do poder, o formato das «primárias» retira-lhes todas as esperanças. Alguns membros desses partidos, vendo-se excluídos à partida, chegam mesmo a lamentar uma boa e clara eleição do secretário-geral em sede de congresso. Mas deixá-los. O certo é que, quem viu a campanha alegre de Espinho, à laia de Carnaval, sabe que o PS não tem soluções para Portugal. A não ser a eutanásia. Ou os casamentos gay. É de morte!
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Leandro Martins

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